Uma visita ao Castelo de São Jorge pode ser uma excelente forma de começar a explorar Lisboa com crianças. Principalmente porque foi aqui que nasceu a cidade. Palco de duras batalhas, residência de reis e fundamental para a defesa de populações contra invasões de inimigos, o Castelo de São Jorge tem muito para contar. Mas também tem muito para mostrar sobre a Lisboa de hoje. Daqui de cima, observamos a cidade, descobrimos-lhe os locais mais emblemáticos, a azáfama e a beleza de uma capital tão bonita como é Lisboa.
Bocadinhos de história

A história do Castelo de São Jorge confunde-se com a história da origem de Lisboa e de Portugal.
Os primeiros vestígios de que a zona foi habitada remontam aos século VI A.C. Depois, ao longo dos séculos, passaram por aqui muitos povos: fenícios, gregos, cartagineses e romanos, suecos, visigodos e muçulmanos.
Na época do Império Romano, entre o século I AC e o Século V DC, este local era um importante porto marítimo da província da Lusitânia. Os romanos chamaram-lhe Felicitas Julia Olisipo.
Mais tarde, no século VIII, os muçulmanos conquistaram a região e Lisboa passou a ser chamada de Al- Ushbuna ou Lissabona. E foi então, no século XI, que os muçulmanos construíram as primeiras fortificações do castelo. Era aqui que se localizava a Alcáçova, centro de poder político e militar da cidade muçulmana. Toda a zona urbana ficava dentro da Cerca Moura, uma muralha que partia do castelo e se estendia ao longo da colina com a função de defender a população de ataques.
A conquista do Castelo por D. Afonso Henriques

Em 1147, D Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, com o apoio dos Cruzados, montou um cerco a Al-Ushbuna. Durante três meses os cavaleiros cristãos cercaram as muralhas da fortificação moura. Sem acesso ao exterior e já muito enfraquecidos devido à fome e a doenças, os mouros renderam-se em outubro desse ano. D. Afonso Henriques e as suas tropas entraram no castelo e conquistaram Lisboa.
Lenda de Martim Moniz
Conta a lenda que Martim Moniz, um destemido fidalgo, lutou ao lado de D. Afonso Henriques na conquista de Lisboa aos mouros. Durante o cerco ao castelo, ao perceber que uma porta havia sido entreaberta por um guarda mouro, Martim Moniz colocou-se no meio e impediu que a porta fosse fechada de novo. Morreu entalado mas a sua atitude permitiu que os homens de D. Afonso Henriques entrassem e conquistassem o castelo. Ninguém sabe ao certo se a história é real, mas a verdade é que o Castelo de São Jorge terá para sempre uma porta muito especial: a de Martim Moniz!

Entre os séculos XIII e XVI o castelo viveu uma época áurea: era o Paço Real, residência oficial dos reis de Portugal. Os edifícios da época muçulmana foram adaptados para receber o rei, o bispo e toda a corte. Apenas no tempo de D. Manuel I, no século XVI, o Paço Real foi deslocado para o Paço da Ribeira, no Terreiro do Paço.
Sabiam que?
Durante a vossa visita ao castelo irão encontrar três estátuas em pedra de um animal africano. Simbolizam animais muito especiais e exóticos que aqui viveram no século XV. Foram trazidos de uma expedição de África no reinado de D. Afonso V. Este rei tinha uma admiração especial por estes bichos e até deixou em testamento dinheiro para os manterem no castelo. Já descobriram que animais eram estes?
Aqui foi instalada a primeira Torre do Tombo ou Torre do Haver. Entre 1378 e 1755, todos os arquivos reais e bens importantes do reino estavam aqui guardados, numa das torres do castelo.

Em 1580, com a ocupação espanhola, o castelo adquiriu um carácter mais militar. Foi perdendo importância e sofrendo muito desgaste. Apenas na década de 40 do século XX sofreu obras de reabilitação muito extensas e o castelo adquiriu o aspecto que tem hoje. Por essa altura, foram-se descobrindo vestígios de construções mais antigas e, também, o enorme valor histórico. Muitos dos vestígios encontrados estão expostos no Núcleo Museológico do castelo.
Descobrir o Castelo de São Jorge com crianças
A visita ao Castelo de São Jorge é bonita e tem vários pontos que fazem as delícias das crianças. Elas vão adorar:
• A viagem até ao castelo, feita por ruas estreitas e calçada antiga e irregular, numa Lisboa muito castiça e com traços medievais.
• A estátua de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, logo na entrada do castelo. Dá-nos as boas-vindas, numa pose confiante de conquistador!

• Fotografar as vistas. Deixe uma máquina fotográfica nas mãos dos vossos filhos e descubram o que mais lhes desperta a atenção.
• Os canhões que estão apontados ao rio, à espera de navios piratas ou povos invasores.

• Entrar na Câmara Obscura, com a vista de 360 graus em tempo real. (Para nós não foi fácil encontrar a entrada. Terão de subir as escadas para as muralhas.)
• A vista do castelo, que é deslumbrante! Percam algum tempo a descobrir pontos interessantes da cidade: o Terreiro do Paço, o Convento do Carmo, as Amoreiras…

• Descansar na esplanada do castelo, lanchar à sombra enquanto admiram os pavões.
• Os Programas Família, actividades para conhecer melhor o castelo e a sua história. Mais informações aqui.
• Descobrir a Torre de São Lourenço ou Couraça, situada a meia encosta.

• Da Exposição Permanente, com vestígios muitos antigos de presença humana, alguns com mais de mil anos.
Planear a visita ao Castelo de São Jorge

Subir ao Castelo de São Jorge a pé é para valentes. O castelo está implantado na Colina de São Jorge, uma das mais altas da cidade. As ruas íngremes e irregulares de acesso ao castelo tornam o passeio com crianças longo e cansativo.
Felizmente, podemos apanhar um meio de transporte que nos leve sem cansaços. O Tuk Tuk ou o Elétrico são formas bem castiças de subir e, ao mesmo tempo, admirar as ruas dos bairros antigos de Alfama e da Mouraria.
O Eléctrico 12 e o Elétrico 28 levam-nos até às Portas do Sol. O primeiro apanha-se no Martim Moniz e o outro no Chiado ou na Praça Luis de Camões, ambos com estação de metro. Depois, é um pulinho até ao Castelo.
A entrada é paga: 15€ adultos e 7.5€ crianças a partir dos 13 anos. Pode também optar por ser recebido por um guia, sem ter de esperar na fila para entrar.
Pode optar por um passeio mais alargado e conhecer o Castelo e o bairro de Alfama.
Sugestão: na bilheteira do castelo existe um balcão para residentes no concelho de Lisboa, não precisa esperar na fila. Entre e peça informações ao segurança.
À volta
Se ainda houver disposição, desçam a pé pois vão encontrar muitos locais interessantes. O Miradouro de Santa Luzia e as Portas de Sol, a Sé de Lisboa, o Museu do Fado, o Museu do Teatro Romano e o Museu de Lisboa – Santo António são alguns dos pontos a descobrir. Podem participar num passeio com guia.

No entanto, atenção aos carrinhos de bebé e a crianças pequenas. O caminho é muito interessante e cheio de surpresas maravilhosas mas deve-se considerar a calçada muito irregular e os passeios estreitos.
Podem também descer até ao Terreiro do Paço para um belo fim de tarde e descobrir mais sobre a história da cidade no Lisboa Story Center.
Esta é uma visita ao coração de Lisboa. Divirtam-se a descobrir a cidade!
E, já agora, os animais que foram trazidos de África e mantidos no castelos eram leões. As suas jaulas ficavam no local onde hoje funciona o restaurante do castelo.

Sugestões para mais dias bons em família:
Visitar o Museu Nacional dos Coches.
Se gostam de castelos, também vão gostar de visitar Óbidos.