Viajar em família é muito bom mas, também, muito cansativo. Muitas vezes, tudo depende da forma como encaramos e organizamos uma viagem. Em época de pandemia, esta é a altura ideal para repensar as viagens de uma forma mais calma e intencional e conhecer o conceito de Slow Travel.
Viajar é muito bom. Permite-nos conhecer novos destinos, recarregar baterias e aproveitar a companhia da família. No entanto, admitamos, nem sempre é assim.
Entusiasmados com o local que escolhemos, andamos numa correria atrás de todos os pontos turísticos. Enfrentamos filas intermináveis e pagamos preços altíssimos por refeições e lembranças colocadas no caminho do turista. Não descansamos, não respeitamos o ritmo da família e, muitas vezes, não nos divertimos.
O movimento Slow Travel é um conceito que defende uma forma simples e intencional de viajar, rejeitando a ideia tradicional de turismo de massa. Propõe que o visitante se envolva com o local de férias, conhecendo as pessoas, a natureza e a gastronomia da zona. Para que viva experiências mais genuínas, com calma e sem pressões.
Como nasceu o movimento Slow
Na década de 80 surgiu na Itália o movimento Slow Food, como protesto contra os restaurantes Fast Food. Rapidamente, esta iniciativa cultural espalhou-se a outras áreas, criando-se um movimento mais abrangente: o Slow Movement.
Carl Honoré, fundador desde movimento, definiu Slow Movement como uma revolução cultural que desmonta a ideia de que tudo deve ser feito rapidamente. Propõe a adoção de um estilo de vida mais calmo, que nos permita viver o momento.
A ideia é valorizar o propósito e a simplicidade de cada ação. E, assim, sermos nós a controlar o ritmo da nossa vida, respeitando as nossas necessidades e a nossa saúde.
O que é Slow Travel
Trata-se de encontrar um ritmo mais tranquilo que nos permita mergulhar no ambiente e na cultura locais. Ter o interesse de, calmamente, conhecer os detalhes que tornam cada sítio diferente e único. E aproveitar o melhor que o local tem para oferecer. Descobrir gastronomia, a natureza, a história e os hábitos de vida da população local. É sobre a jornada, sobre a experiência que se retira do passeio, e não sobre todos os pontos turísticos que podemos visitar.
Esta forma de abordar uma viagem é, em tudo, adequada a famílias com crianças. Assim, fica mais fácil respeitar o tempo das sestas, manter uma alimentação adequada e aproveitar momentos tranquilos.
Ideias para organizar uma Slow Travel
Planear para não complicar
Planear é uma boa opção quando se pretende adotar o conceito de Slow Travel. A pesquisa antecipada permite conhecer a gastronomia, a história, as atividades locais, trilhos da natureza e outros detalhes menos explorados. Permite também pensar na família, nas necessidades de cada um e nas experiências que realmente gostaríamos de viver.
Experimentar a vivência dos locais
Passear sem pressões dá-nos abertura para conversar com os habitantes do local que visitamos. Pedir informações e recomendações aos locais ajuda a conhecer melhor os detalhes da região. Descobrem-se histórias antigas, os sítios mais bonitos e os melhores locais para uma refeição típica.
E, quem sabe, fazem-se amizades para a vida.
Não fazer nada à pressa, a não ser que haja um avião para apanhar
Instalarmo-nos num local e ficarmos por ali durante uns dias, sem deslocações de carro, permite-nos ter tempo para descobrir os seus detalhes. Permite-nos observar pormenores que, outra forma, passariam despercebidas se tivéssemos os dias cheio de atividades. Poucas experiências com mais intenção dá-nos mais tempo e motivação para nos deliciarmos com o inesperado.
Privilegiar alojamentos Slow
São muitos os alojamentos que podemos optar para passar umas férias tranquilas e de descoberta. Alugar um apartamento permite preparar as refeições com produtos comprados localmente e poupar dinheiro em restaurantes.
Também o turismo ecológico e o turismo rural são alojamentos que privilegiam a cultura local, com um ambiente caseiro e regional. Muitos destes alojamentos promovem atividades na região, como passeios de bicicleta.
Diminuir o recurso às tecnologias e aumentar o recurso aos cinco sentidos
Não fotografemos tudo o que nos aparece à frente! Tirar fotografias é uma das atividades mais interessantes da viagem mas reaprender a guardar as melhores imagens na nossa cabeça é fundamental.
E existem mais sentidos que devem ser estimulados. O som da queda de água, o cheiro das flores, a textura do tronco de uma árvore milenar apenas ficarão registados na nossa memória.
Já agora, é importante resistir à tentação de andar sempre à procura do Wi-Fi, a consultar os emails e a postar nas redes sociais. Afinal, estamos com a família, não vamos andar sempre agarrado à internet, pois não?!
Pensar mais no meio-ambiente e nas comunidades locais
Qual será a melhor forma de diminuir a nossa pegada ecológica durante as férias? E de influenciar positivamente as comunidades locais? Estas questões devem ser colocadas quando nos instalamos num novo local. São várias as atitudes que podemos tomar: optar por deslocar a pé ou de bicicleta, por comer nos pequenos restaurantes da zona, por comprar peças de artesãos locais. Se pensarmos em conjunto encontraremos muitas formas de deixar um impacto positivo no local.
Dar sentido à viagem
Não interessa se vamos para a cidade ou para o campo, se são dez dias ou apenas uma tarde. Importa a nossa atitude perante o local. É possivel aplicar os princípios de Slow Travel até ao lado de casa. Pode ser um passeio de um dia com a intenção de descobrir os detalhes que tornam o local especial. Sem pressa e com curiosidade pelos detalhes.
Trazer experiências como recordação
Cada região tem algo muito especial para oferecer aos seus visitantes. Uma lenda, uma receita, uma tradição. Descobrir uma característica única e recordá-la depois de chegar a casa é uma forma de reviver os bons momentos da viagem. Uma boa ideia é trazer para casa a receita de algum prato típico da região e prepará-lo sempre que tiverem vontade. É uma bela forma de recordar o passeio!
Slow Travel é sobre aproveitar as experiências que uma viagem nos proporciona sem pressões, privilegiando o prazer de explorar e de relaxar. No fundo, é contrariar a ditadura do relógio e dos pontos turísticos obrigatórios. E apenas viver o momento.
Bons passeios!!